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Como a pandemia Covid-19 impactou a pesquisa científica em 2020

No começo do ano de 2020 o mundo atravessava um período de calmaria, sem grandes turbulências econômicas ou previsões de crises a frente. Como consequência, a ciência não havia sofrido cortes abruptos de investimento por motivos econômicos. Entretanto, em março a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo COVID-19 como a primeira pandemia do século. Como resultado imediato, a economia global paralisou, países restringiram suas fronteiras e diminui-se abruptamente a circulação de pessoas e os contatos interpessoais.

No meio desta tempestade perfeita, a ciência também começou a sofrer: as Universidades fecharam suas portas e os laboratórios paralisaram as suas pesquisas. Assim sendo, muitos projetos experimentais também paralisaram e a produção de dados para dar suporte a ideias foi abruptamente interrompida.

Entretanto, dada a natureza da pesquisa científica, ela não foi tão impactada como alguns setores da economia, como por exemplo o setor de turismo. Isso porque o trabalho intelectual necessário para avançar a ciência, incluindo a publicação de artigos científicos, pode ser realizado remotamente e não precisa de presença física de pessoas para acontecer. Além disso, a ciência reapareceu ao mundo como a única solução para sairmos desta crise. Assim, conectar a comunidade científica rapidamente em busca de uma resolução para o problema pareceu ser o caminho lógico para combater o COVID-19. Então como avançar a ciência de maneira mais rápida e eficiente? Existe um jeito de circular dados e ideias de maneira rápida e confiável?

Preprints agilizam o processo de divulgação de resultados e ideias

Você sabia que a publicação de um artigo científico leva em torno de 3 meses desde a sua submissão até a sua disponibilização? Isso acontece porque, após a primeira submissão, os revisores têm em geral entre 4 e 8 semanas para ler e opinar sobre o artigo. Como na maioria dos casos o artigo necessita de mais correções ou mais dados para responder a questões dos revisores, os autores precisam de mais algumas semanas para submeterem uma segunda versão. A partir deste ponto, e se tudo correr bem, o artigo estará disponível em algumas semanas.

Entretanto, diante da urgência em se publicar resultados e ideias o mais rápido possível durante a pandemia, os preprints vêm ganhando crescente importância dentro da comunidade científica, evidenciando a existência de uma demanda por meios de divulgação cientifica mais rápida. Como exemplo, o maior preprint na área biomédica (medRxiv) chegou a disponibilizar entre 50 e 100 artigos diariamente sobre o COVID-19 durante a pandemia, demonstrando a importância em se ter um canal aberto para a divulgação de dados. Se apenas meios tradicionais de publicação de ciência fossem utilizados para publicar os mesmos artigos, é possível que se levariam alguns anos para a divulgação do que se tornou público em apenas algumas semanas.

Preprints aumentam a qualidade dos trabalhos de uma área

Contudo a importância dos preprints não se resume apenas a ter uma maior agilidade na publicação dos dados, mas também em aumentar a qualidade da ciência como um todo. Em geral os preprints disponibilizam os dados de uma pesquisa e, ao mesmo tempo, abrem um espaço para debater sobre a sua qualidade. Assim, ao contrário de um artigo revisado por pares em que apenas 2 ou 3 pesquisadores da área avaliam a qualidade do manuscrito, um preprint é sabatinado por dezenas ou até centenas de pesquisadores antes de sua publicação.

Com isso, o surgimento de prepints se torna uma ferramenta popular também para se evitar ciência de baixa qualidade. A cultura de se publicar artigos em preprints cria um ambiente no qual um determinado campo de pesquisa se torna mais dinâmico, com as boas ideias sendo compartilhadas e as ruins eliminadas mais rapidamente. Desse modo, com a circulação das melhores hipóteses na comunidade cientifica, mais grupos têm a chance de testar experimentalmente qual a hipótese mais adequada para se explicar um fenômeno. O aumento de competição também resulta na publicação apenas dos trabalhos de melhor qualidade, evitando futuras retratações de artigos.

Assim, o uso de preprints se torna ferramenta essencial para avançar a ciência na atual situação de lockdown. Sem a possibilidade de se gerar grandes quantidades de dados, o avanço se dará inevitavelmente pelo compartilhamento das melhores ideias. Ainda, atualmente com a crescente disponibilidade de ferramentas de predição in silico (com a ajuda de métodos computacionais), as boas idéias podem ser testadas utilizando modelos teóricos mesmo em lockdown; com a ajuda de um computador e treinamento em ferramentas de predição, consegue-se planejar melhor os experimentos para se comprovar uma hipótese, reforçando ainda mais a importância da divulgação rápida de ideias.

Dicas para publicar um preprint com sucesso

A intenção de um preprint é abranger a maior audiência possível de leitores da área e, tal qual uma publicação em uma revista com revisão pelos pares, deve ser bem planejada. A seguir algumas dicas de especialistas de como se publicar um preprint:

  • Como atualmente existem diversos servidores de preprint, o primeiro passo é decidir qual deles será o mais adequado para publicar os seus dados. Pense qual o seu público alvo para escolher um servidor que atenderá as suas expectativas.
  • Seja responsável ao escrever o seu título e resumo! Saiba que o público geral pode não entender a diferença entre um preprint e um artigo revisado por pares. Tente ser cientificamente o mais rigoroso possível para não tirar conclusões precipitadas ou aclamar por conquistas não suportadas pelos seus resultados.
  • Use intensivamente mídias sociais para promover o seu preprint. A intenção de um preprint é atingir o maior público possível para circular idéias e receber feedbacks para melhorar o seu artigo. Além disso, muitos pesquisadores reconhecidos acompanham os novos artigos através de plataformas que facilitam a divulgação de ciência, como o Twitter.
  • Receba bem os criticismos do público geral. Nem sempre os feedbacks recebidos irão elogiar o seu trabalho nem ser elegantes; entretanto, apesar de muitas vezes ser difícil ouvir uma crítica hostil (cada vez mais comum em tempos de redes sociais), muitas críticas podem vir de especialistas da sua área. Tente filtrar e utilizar apenas aquelas críticas que irão melhorar o seu trabalho. Lembre-se, o seu trabalho divulgado em um preprint é um diamante bruto, e sem atrito não ocorre lapidação.
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