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Trabalhos científicos falsos revisados por pares

Para um leigo, ler trabalhos científicos pode ser um exercício de humildade. Nós conhecemos a maioria das palavras e com certeza elas fazem sentido em diversos outros textos, mas os pesquisadores costumam usar, por necessidade, uma linguagem muito complicada.

Entretanto, nem todos os textos científicos fazem sentido. Alguns realmente não querem dizer absolutamente nada.

Cerca de 120 trabalhos científicos publicados em periódicos internacionais ao longo dos últimos anos foram descobertos como fraudes, criados por nada mais, nada menos do que um gerador de palavras automático que coloca palavras bonitas e aleatórias, que soam bem juntas, em estruturas de frases plausíveis. Como resultado, tais artigos foram retirados das revistas que originalmente os publicou.

Um dos trabalhos científicos foi inclusive publicado no Congresso Internacional sobre Qualidade, Confiabilidade, Risco, Manutenção e Engenharia de Segurança em Chengdu, China. O site do Congresso afirma que todos os artigos são “revisados ​​nos quesitos de mérito e conteúdo”. Tal afirmação é agora passível de questionamento, tendo em vista que um dos artigos publicados não passava de conversa fiada.

Como algo assim pode ter passado despercebido pelos editores? Parte da genialidade dos artigos gerados por computador é que, pelo menos para o olho destreinado, tais trabalhos parecem plausíveis. Tal situação também demonstra um problema atual sério presente na comunidade científica: devido aos cientistas estarem sob intensa pressão para produzirem, tais artigos começam a surgir. No entanto, isso não explica como tais artigos acabam sendo publicados, uma vez que todos esses documentos deveriam ser avaliados por pares.

Até mesmo os editores não podem explicar como ou o porquê dos artigos terem sido publicados. Eles afirmam que estão atualmente sob investigação e que, por conta disso, devem revisar uma quantidade muito grande de artigos por dia. Um porta-voz da Springer disse que vai levar algum tempo para completar a tarefa de identificar todos os artigos falsos já publicados, uma vez que eles publicam mais de 2.000 revistas científicas e 8.000 livros a cada ano.

Tais dados alarmantes levantam questões ainda mais sérias: Tais artigos não são lidos pelos revisores? Eles sequer são encaminhados aos revisores? Para muitos leitores, até mesmo dentro de suas áreas de conhecimento, alguns artigos realmente soam como bobagens rebuscadas, pois estão repletos de linguagem ofuscante e jargão esotérico. É quase impossível dizer se a pessoa está lendo conteúdo escrito por um ser humano ou por uma máquina.

Existem várias teorias do motivo de tais publicações estarem ocorrendo em grande quantidade. Uma delas é que as pessoas estão apenas testando o sistema, provando que existem falhas, em uma espécie de protesto contra a atual forma de avaliação e demanda de artigos científicos. Outra é que as revistas científicas podem não passar de fraudes criadas deliberadamente para angariar dinheiro. Independente do motivo, é importante que a comunidade científica tenha em mente que as publicações científicas, assim como outras áreas, não são imunes a fraudes e erros. O sistema de revisão por pares é o melhor sistema atualmente e tal incidente deve ser visto como uma oportunidade de melhorar tal sistema e torna-lo ainda melhor.

Referências:

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