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Publicar ou Perecer? Significado e consequências

salame-science-EnagoA comunidade científica criou o hábito de valorizar um alto número de publicações, o que de algum modo pode ser injusto, visto que quantidade não é sinônimo de qualidade. Justamente por isso, várias discussões têm sido levantadas nos últimos anos. Entre os temas mais abordados, estão os parâmetros éticos, a qualidade da pesquisa científica, o respeito à diversidade, entre outros.
A seguir, trataremos dos principais questionamentos a respeito dessa problemática e de suas respectivas consequências.

1. Afinal, o que significa a expressão “Publicar ou perecer”?
• Para os estudantes de pós-graduação, significa que se a pesquisa trabalhada não é “publicável”, a colocação no mercado de trabalho será mais difícil.
• Para um corpo docente novato, “perecer” significa não progredir na carreira.
• Para os pesquisadores estabelecidos, que não publicam em jornais de prestígio, “perecer” pode significar a perda do financiamento de um projeto ou até de sua posição na universidade.

2. Um ciclo vicioso

A cultura do publicar ou perecer envolve tanto as universidades quanto as revistas acadêmicas.
• De um lado, estão as instituições de pesquisa, que dependem do prestígio de revistas altamente conceituadas para atrair financiamentos.
• De outro, estão as revistas, que tem de lidar com o aumento das submissões de trabalhos, o que eleva os custos operacionais do processo.
• Com o excesso de publicações, a pressão por resultados de alto impacto aumenta ainda mais o nível de exigência para que uma pesquisa seja considerada inovadora em sua área.

3. As duras consequências

Quanto mais essa cultura de pressão persistir, maior será o risco para a integridade da pesquisa. Já podemos ver claramente algumas dessas consequências:

Ciência do Salame – os pesquisadores começam a dividir os resultados de um único projeto para gerar vários trabalhos em vez de apenas um grande artigo.
Multiplicação de autoria – Cria-se uma rede de co-autores, que podem ter colaboradorado ou não com a pesquisa. Os nomes incluídos nesse relacionamento se repetem em todas as publicações desenvolvidas por este grupo sem que os níveis de participação sejam considerados.
Viés de publicação – a fim de maximizar citações, as revistas publicam apenas pesquisas com resultados positivos. Esse comportamento limita o número de estudos de replicação, prejudicando a verificação desse primeiro conjunto de resultados.
Obsessão por citações – Para alcançar um bom Fator de Impacto, as revistas priorizam trabalhos que possam gerar um maior número de citações. As instituições utilizam esta mesma medida para avaliar o desempenho de seu corpo docente e discente.
Integridade científica comprometida – as revisões por pares podem ser manipuladas, os resultados podem ser maquiados ou totalmente falsificados, e os conflitos de interesse tendem a ser convenientemente ignorados.

4. A quebra do ciclo

O panorama não parece animador, mas há outros caminhos para realizar boa pesquisa e fugir do processo de publicação a qualquer custo:

Alguns acadêmicos defendem o fim do chamado Sistema Funil, estratégia de produzir em grande quantidade para que ao menos uma parte das publicações seja relevante. Ao aumentar o nível de exigência, o número de publicações submetidas à revisão diminuiria, dessa forma os trabalhos seriam melhor selecionados e o índice de confiabilidade, tanto do pesquisador que conseguiu publicar quanto da revista, aumentaria.

Outra prática a ser repensada é o modo como as próprias instituições avaliam os pesquisadores. Ao contrário do modelo “publicar ou perecer”, cientistas como Gilson Volpato defendem que a academia observe o nível de eficiência de cada autor, que pode ser definido por meio da relação entre o número de publicações e o número de citações (aceitação de um trabalho).

Autores, revisores e instituições podem e devem se comprometer com a qualidade das pesquisas a serem submetidas, analisadas e publicadas. Uma relação mais transparente e efetiva será a única maneira de evitar que hábitos ruins continuem avançando.

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