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Por que é Importante Publicar Resultados Negativos?

 

Os pesquisadores em geral acreditam que as pesquisas básicas e pré-clínicas são impossíveis de serem reproduzidas, porém, os estudos que não podem ser reproduzidos continuam visíveis no escopo literário da área, fazendo com que outros pesquisadores percam tempo e recursos perseguindo novos achados nem tão inéditos assim. Para evitar este desperdício desnecessário, a publicação de resultados negativos é importante pela ajuda primordial que ela oferece ao campo de pesquisa e seus pesquisadores na busca por metodologias melhores e mais atuais. Ademais, com a publicação destes dados, os editores das publicações científicas podem desenvolver modelos de publicação melhores, e um exemplo disto é o Faculty of 1000 Research (em português, Colegiado de 1000 Pesquisas) (http://f1000research.com/; F1000Researh). O foco primário deles é na pesquisa pré-clínica.

Embora este modelo ainda seja novo tanto para editores como pesquisadores, muitos pesquisadores já demonstraram entusiasmo por esta nova iniciativa, porém, o crescimento deste tipo de publicação é pequeno ainda e seus efeitos não são perceptíveis. Em resposta a este novo modelo em desenvolvimento, o National Institutes of Health e outros grupos semelhantes estabeleceram novas diretrizes editoriais que exigem uma maior abertura, bem como um maior rigor com os métodos de pesquisa e análise dos dados.

Com o crescimento na publicação de resultados negativos, os pesquisadores terão a possibilidade de publicar um grande número de dados acumulados enquanto eles tentavam replicar outros achados científicos. E mais importante ainda, é que cientistas em geral publicam seus dados dentro de casa, porém, a publicação de resultados negativos irá beneficiar os outros cientistas da área ao ajudar na correção da literatura da área, ajudando a economizar o tempo que se perderia em experimentos desnecessários, bem como o tempo perdido relatando as instâncias nas quais a replicação dos experimentos falhou por conta de falhas na metodologia.

A Visão de Especialistas Sobre a Publicação de Resultados Negativos

É bastante claro que uma ciência desenviesada requer a publicação dos resultados negativos para ajudar a prevenir o desperdicio de tempo e recursos e na catalise da produção de novas hipotéses. Entretanto, este assunto atinge o cerne da filosofia da ciência, e possui grande influência sobre conceitos como ciência pura, ou seja, a ciência que não tem fins utilitários.

Com o constante crescimento global das ciências aplicadas, os resultados negativos são geralmente percebidos como um indicativo de ideias ruins, e acabam sendo definitivamente associados com a perca da utilidade putativa.  Einstein não tinha noção da possibilidade de uma bomba atômica, e assim como os físicos de 1916 eram totalmente ignorantes sobre suas contribuições para a tecnologia da informação, os físicos trabalhando com teoria das cordas são incapazes de predizer se seus modelos matemáticos serão algum dia validados, e muito menos se serão úteis.

Os resultados negativos são decepcionantes e fúteis, especialmente se eles não são publicados, já que eles não carecem de validação e reconhecimento. Entretanto, os ensaios clínicos são frequentemente realizados de acordo com seus prospectos, independente do resultado, enquanto as pesquisas básicas semelhantes são rapidamente abandonadas quando confrontadas com resultados negativos. Entretanto, as ciências biológicas básicas estão cheias de redes anfractuosas de associações moleculares, e o trabalho da biologia sistêmica mostra casa vez mais a integração incompreensível entre os diversos caminhos moleculares. Assim, frente a incontrolável complexidade biológica, a associação entre moléculas impossíveis de serem reproduzidas podem ser interpretadas como possíveis ao invés de prováveis.  Consequentemente, pode ser desnecessário se agarrar a valores científicos como repetitividade e divulgação de resultados negativos em algumas das ciências da vida mais complexas, embora o registro do diário de trabalho laboratorial possa ter seu valor próprio.

Quando se está testando uma hipotese por meio de um experimento, e este experimento valida esta hipotese, o resultado é considerado como válido para a publicação. Entretanto, se os resultados se mostram inexperados, indicando que a hipotése estava incorreta, fazendo com que a maioria das publicações rejeitem estes resultados. Há na historiografia da ciência diversos exemplos que mostram que a não publicação de resultados negativos causou impactos significativos no desenvolvimento científico.

O experimento de Michelson-Morley é um exemplo clássico de um resultado negativo que gerou diversas ramificações científicas. Os pesquisadores mediram a velocidade da luz em diferentes referenciais inerciais – na direção da órbita da terra e em sentido contrário – com a esperança de encontrar velocidades maiores e menores, respectivamente, de acordo com a Teoria da Propagação da Luz vigente na época. Entretanto, eles verificaram que a velocidade da luz era a mesma em todas as direções. Os resultados negativos causaram consternação na comunidade científica e eventualmente nos levaram a Teoria Especial da Relatividade. Este “resultado negativo” trouxe mais avanços para a ciência do que muitos “resultados positivos”.  No mundo de hoje, outro impacto significativo deste experimento pode ser visto na identificação das ondas gravitacionais que foram detectadas pelo detector LIGO. Este detector identifica como os raios de luz “interferem” entre si e revela e qualquer mudança comparativa no comprimento do braço durante a passagem da luz, que é a base do famoso experimento de Michelson-Morley de 1887.

Sendo assim, a comunidade editorial está começando a se tornar mais receptiva a publicação de resultados negativos. Jornais de acesso livre, como o f1000Research, publicam resultados positivos e negativos em pesquisas de áreas das ciências da vida, enquanto publicações como o Journal of Negative Results in Biomedicine publica apenas resultados negativos. Esta é uma nova tendência ao qual devemos ser receptivos. Na minha opinião, todas as pesquisas científicas devem ser publicadas, positivas ou negativas, desde que seja para o avanço do conhecimento.

Assim como é necessário publicar os resultados positivos, você também deve publicar os resultados negativos. Ao se publicar somente os resultados positivos, o publico tende a ter uma visão enviesada e limitada da pesquisa. Da maneira como normalmente se esboça hipoteses cientificas para serem mais tardes experimentadas, se os resultados são positivos, então você submete sua tese ou artigo. Porém, se os resultados são negativos, eles acabam sendo ignorados e não publicados.

Uma abordagem melhor e mais neutra a se tomar é a de que todos os resultados devem ser publicados contanto que sejam frutos de experimentos realizados sobre hipóteses sólidas. As duas maiores razões são de que ao não se publicar os resultados negativos, a literatura científica tende a se tornar enviesada por parte das informações escolhidas e isto pode nos levar a um desperdício de recursos e tempo por que os outros cientistas irão considerar as mesmas questões e realizaram os mesmos experimentos falhos.

A publicação de resultados negativos pode nos levar a uma grande troca de informações e melhores resultados gerais alcançados pela comunidade científica. Na maioria das vezes, as pessoas aprendem mais ao cometer falhas do que obtendo sucesso, e o mesmo pode ser dito sobre a comunidade científica.

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