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O mundo acadêmico está competitivo demais?

Idealmente, os pesquisadores trabalham para se aproximar o máximo possível das verdades científicas e essa busca deveria ser a maior recompensa deles. O problema é que esses profissionais fazem parte de um intrincado cenário no mundo acadêmico, onde os recursos são cada vez mais escassos e a competitividade é cada vez mais acirrada, o que pode comprometer seriamente a ética científica.

A luta por um lugar ao sol

Engana-se quem acredita que o título de doutor é garantia de boas posições em instituições de renome ou de financiamentos de pesquisa.  O principal problema é que a especificidade do título muitas vezes filtra as possibilidades de trabalho desses profissionais e à medida que a proporção de doutores aumenta, maior é a rivalidade.

Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), só em 2010, o Brasil formou mais de 11 mil doutores. Embora o número reflita uma realidade localizada, em âmbito global a tendência é a mesma: temos um número cada vez maior de acadêmicos competindo pelas mesmas vagas. Para agravar o problema, as crises econômicas em vários países diminuíram os investimentos em pesquisa, aumentando ainda mais a disputa por financiamentos. É o caso do Brasil, que já era conhecido por investir uma porcentagem menor do Produto Interno Bruto (PIB) em ciência do que a média mundial, apenas 1,2%. Com os últimos problemas econômicos, o país sai de um montante de 2 bilhões de reais investidos em 2013 para pouco mais de 1 bilhão de reais em 2014. Além disso, o governo já anunciou o corte de 10% do orçamento repassado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a diminuição de recursos dos Fundos Setoriais e a suspensão de editais dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). Na prática, essas medidas representam menos recursos e menos vagas de trabalho.

Outro aspecto complicador são as publicações: o número aumentou bastante nos últimos anos. Segundo a Web of Science, ao todo, os 226 países listados em sua plataforma produziram mais de 8 milhões de artigos científicos entre os anos de 2009 e 2013. Apesar do aumento na produção acadêmica, os periódicos renomados continuam os mesmos e apresentam taxas de rejeição de mais de 90%. A competição entre as próprias revistas também cria distorções, sendo uma delas a preferência por publicar artigos que abordam temas mais populares. Em contrapartida, artigos com resultados “negativos” só representam 14% das publicações anuais.

A perda da cordialidade profissional

Um dos principais problemas da competitividade no mundo acadêmico é a perda da cordialidade profissional, da disponibilidade de parcerias entre os pares pelo medo de serem superados pelos colegas. Muitos pesquisadores experientes, por exemplo, retêm parte dos dados para evitar que outros cientistas utilizem essas informações. Como resultado, temos um número crescente de pesquisas irreproduzíveis.

Esse tipo de problema pode afetar diretamente a pesquisa científica e causar possíveis danos a grupos de testes. Em 2012, cientistas da empresa de biotecnologia Amgen foram capazes de reproduzir os resultados de apenas seis dos 53 artigos de pesquisas sobre o câncer. Segundo o The Economist, entre 2000 e 2010, 80 mil pacientes participaram de testes clínicos de pesquisas que mais tarde foram retratadas devido a erros e procedimentos impróprios.

Todos esses problemas e a própria perda de recursos poderiam ter sido evitados com maior rigor científico e com estudos que possibilitassem sua reprodutibilidade. Isso mostra que quando outros valores são colocados acima da produção de conhecimento, a integridade da pesquisa é comprometida. Apesar desse cenário, os pesquisadores podem integrar-se à comunidade científica, desenvolvendo mais parcerias e evitando que falhas sejam cometidas e que casos de má conduta ocorram impunemente.

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