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Não corte caminhos: atalhos em pesquisa podem ser prejudiciais a sua pesquisa e a sua reputação

O trabalho de cientista é um dos mais árduos que existe: fazer ciência exige muitas horas de dedicação semanal apenas para se manter atualizado em seu campo de pesquisa. Com o avanço e a expansão científica das últimas décadas, o número de publicações e grupos de pesquisa em cada área aumentou exponencialmente. Consequentemente, a pressão para se manter competitivo também aumentou: são exigidos cada vez mais publicações e de melhor qualidade. Além disso, a aprovação de novos projetos de pesquisa depende de publicações prévias de boa qualidade.

Por mais tempo que demore para se publicar resultados em boas revistas, esta deveria ser a finalidade de todo pesquisador. Todos sabem que produzir resultados de qualidade é um processo que leva tempo e que não pode (nem deve) ser desnecessariamente encurtado. Por outro lado, diante de tanta pressão para conseguir publicar os seus resultados, pode bater aquela tentação em se tomar atalhos para os publicar rapidamente ou em revistas de menor impacto. Entretanto, usar atalhos em pesquisa nunca é uma boa ideia: tentar abreviar o caminho das publicações tem um preço muitas vezes alto, e publicar em revistas de baixa qualidade ou ter um artigo retratado não irão te ajudar a continuar publicando em boas revistas nem na obtenção de financiamentos.

Neste artigo descrevemos 5 erros que pesquisadores devem evitar a todo custo, apesar da pressão para se publicar.

Não publique resultados com o baixo rigor técnico

Com a pandemia do COVID-19, ficou evidente que a pressão em publicar resultados rapidamente podem levar, tanto autores quanto editores, a deixar erros técnicos passarem despercebidos. Como exemplo, 2 artigos publicados nas maiores revistas médicas (The Lancet e New England Journal of Medicine) tiveram que ser retratados devido a falta de rigor tanto no desenho experimental quanto na coleta de dados e na sua interpretação. Assim, artigos publicados em revistas de alto fator de impacto não são a prova de erros, e mesmo os resultados devem ser lidos com muita cautela e rigor metodológico.

Alcançar um bom padrão técnico começa na submissão de um projeto, no qual devem-se propor métodos adequados a serem utilizados para responder questões levantadas. Como resultado, dados de hipóteses bem estruturadas e com adequado desenho experimental para serem provadas são mais propensas a serem aceitas em boas revistas.

Não deixe de disponibilizar todos os seus dados para a comunidade científica

Em um dos artigos citados acima, a não divulgação inicial dos resultados em detalhes foi um dos motivos na sua retratação. Isto porque a falta de acesso a todos os dados não permite aos revisores acessa-los criteriosamente e, eventualmente, perceber erros técnicos. Portanto, permitir que a comunidade científica tenha acesso aos dados é uma boa maneira de escrutinizar o seu trabalho, montar colaborações e ajudar no rápido avanço da ciência.

Na era da grande produção de dados e análise em massa, existem diversas ferramentas que permitem a disponibilização de grandes quantidades de dados a comunidade cientifica. Uma das melhores alternativas é a utilização de repositórios online, os quais são geralmente gratuitos e permitem o fácil acesso dos dados pela comunidade científica.

Não deixe de usar pre-prints para obter um rápido feedback da comunidade

A utilização de pre-prints ainda é um tema bastante controverso: muitos pesquisadores ainda se sentem receosos em expor os seus resultados antes de tê-los aceito para publicação em uma revista com revisão por pares. Além disso, muitos pesquisadores descreditam os pre-prints pelo fato de não serem revisados.

Entretanto, os pre-prints rapidamente repercutem através de mídias sociais da comunidade cientifica e são a maneira eficiente de ter o seu trabalho escrutinizado por outros pesquisadores. Isto permite corrigir os erros cedo e aprimorar o seu manuscrito mesmo antes de uma submissão. Além disso, os pre-prints aumentam a visibilidade de seu trabalho mesmo antes de ele ser publicado. Por último, mas não menos importante, um pre-print bastante citado tem chances maiores de ser aceito para publicação em revistas melhores.

Não submeta os seus manuscritos a revistas de baixo fator de impacto

Um dos passos mais importante na pesquisa é a escolha de boas revistas para publicar os seus resultados. Em todas as áreas existem revistas de editoras bem reputadas e com criterioso corpo editorial. Geralmente essas revistas trazem melhores publicações e, junto com elas, uma boa reputação. Por outro lado, existem diversas revistas predatórias que buscam publicar artigos em troco do pagamento de uma taxa abusiva. Tais revistas, chamadas de predatórias, normalmente não possuem uma seleção criteriosa dos artigos publicados e, apesar de muitos terem revisão por pares, os seus artigos geralmente não apresentam grande qualidade.

Como resultado, escolher a revista certa para publicar os seus resultados pode futuramente impactar na sua reputação como pesquisador. Publicar muitos artigos em revistas predatórias indica que um grupo de pesquisa não está preocupado com o rigor científico aplicado na obtenção de seus resultados, e certamente pesará contra durante futuros pedidos de financiamento. Por outro lado, ter poucas, mas boas publicações é uma estratégia quase garantida de sobreviver em um ambiente de tanta pressão e conseguir mais financiamentos.

Portanto, por mais que demorem para conseguirem publicações em revistas reputadas, elas trarão mais frutos no longo prazo e devem ser preferidas.

Não tente fazer todo o trabalho sozinho

O trabalho de pesquisa tem se tornado cada vez mais interdisciplinar e necessita de múltiplas habilidades em diferentes áreas para responder hipóteses complexas. Neste sentido, todos os pesquisadores deveriam ser capazes de estabelecer colaborações de maneira eficiente para distribuir o trabalho e conseguir produzir rapidamente dados de qualidade.

Não tente produzir sozinho (ou apenas com o seu grupo) todos os dados e análises necessários para conseguir responder perguntas complexas. Treinar pessoas para realizar apenas uma tarefa pode ser mais demorado do que se aliar a pessoas que já possuem experiencia em uma área. Ao se utilizar da estratégia de dividir e conquistar, trabalhos de melhor qualidade podem ser alcançados. Por mais que demore para conseguir as parcerias corretas e para ter todos os colaboradores em sintonia durante o projeto, os resultados podem ser recompensadores.

Em conclusão, o trabalho de pesquisa é lento por natureza e pesquisadores podem cair na tentação de encurtar o processo para acelerar uma publicação. Entretanto, adotar atalhos podem ter consequências negativas permanentes. Portanto, ao não cometer os erros acima citados, o longo processo em se produzir trabalhos de boa qualidade podem ser otimizados e ajudar a avançar a ciência e a carreira dos pesquisadores.

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