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Laboratório DIY pode ser uma alternativa às pesquisas desenvolvidas em universidades?

Como já é largamente sabido, a tecnologia evoluiu muito no século XX e anda a passos largos neste início do século XXI. O que talvez não seja tão largamente difundido é o fato de que a tecnologia está mudando drasticamente o modo de fazer Ciência, em especial no campo da Biologia sintética. É de conhecimento geral que a inovação científica se beneficia muito das inovações tecnológicas, que facilitam suas práticas, mas a tecnologia está atualmente mostrando que há outras rotinas científicas possíveis através do modelo de laboratório DIY – do it yourself, ou faça você mesmo, em tradução literal.

O modelo de laboratório DIY baseia-se em princípios de acesso livre, ou seja, de livre circulação e produção de conhecimento, oferecendo acesso a kits de laboratório e treinamento científico. Apesar de possuírem uma prática ritualizada como em qualquer outro laboratório – fundamental à garantida da segurança do pesquisador e da confiabilidade dos resultados obtidos – o laboratório DIY parte da premissa de que o fazer científico não necessariamente pressupõe que quem faz pesquisa precisa de títulos acadêmicos para tal, como ocorre no âmbito da pesquisa universitária. A ideia é que qualquer um com habilidade e o treinamento mínimo necessário para começar pode fazer Ciência, por assim dizer, e promover algum tipo de inovação científica sem a necessidade de um título de nível superior.

Embora a princípio a ideia do laboratório DIY soe estranha ou até mesmo leviana, este modelo de laboratório tem se difundido bastante em países como Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo, e já há quem diga que a nova onda de inovação tecnológica do famoso Vale do Silício são os laboratórios DIY. Isso porque, graças aos avanços tecnológicos, montar este tipo de laboratório e fazer descobertas científicas relevantes tem se tornado cada vez mais barato num momento em que conseguir fundos no contexto internacional para a pesquisa universitária se torna cada vez mais complicado dada a escassez de recursos e alta competitividade para aquisição dos mesmos.

Apesar da rápida expansão, no entanto, o modelo de laboratório DIY não é geralmente visto com bons olhos no âmbito da pesquisa universitária, principalmente por uma questão de perda de legitimação do ensino superior como espaço privilegiado da formação do pesquisador e também devido a preocupações com questões de rigor científico e até mesmo bioterrorismo. Paralela à noção de “faça você mesmo” do laboratório DIY, está a noção também de um fazer científico mais atento às questões da comunidade na qual estes laboratórios estão inseridos e mais disponíveis, por assim dizer, a desenvolver pesquisas que deem conta de questões comunitárias mais imediatas. Este tipo de Ciência comunitária tem recebido cada vez mais incentivos do tipo crowdfunding (financiamento coletivo), e tende a se expandir. O atrativo deste tipo de financiamento para a pesquisa, dentre outras coisas, é o acesso mais rápido a recursos, sem precisar passar pela burocracia excessiva e diversos filtros do processo de financiamento da pesquisa universitária.

Mas apesar de serem uma interessante alternativa à pesquisa científica na área de Biologia, dificilmente o modelo de laboratório DIY substituirá totalmente a pesquisa universitária nem a necessidade da trajetória acadêmica de formação do pesquisador. Isso não quer dizer, no entanto, que este tipo de iniciativa não tenha valor nem potencial de inovação ou que não mereça atenção das universidades, que certamente têm muito a aprender com este modo de fazer Ciência menos burocrático, mais colaborativo e mais engajado com a comunidade. Portanto, assim como em muitas questões contemporâneas nas quais modelos de diferentes momentos de sobrepõem, o laboratório DIY tem grande potencial para ser uma tendência a integrar-se à chamada Ciência tradicional, solucionando pontos da prática ainda mal resolvidos nesta última e complementando suas descobertas no universo da pesquisa.

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