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A crise da Covid-19 e o excesso de (des)informação: Como não surtar?

É oficial: estamos vivendo uma pandemia. O novo coronavírus, vírus causador da doença Covid-19, pegou grande parte do mundo de surpresa, e nós não estávamos preparados. Nem para a crise da saúde, nem para a crise do excesso de informação.

As pessoas estão morrendo no Brasil e no mundo, e não temos ainda testes suficientes para acompanhar melhor a progressão da doença no nosso país. Somos bombardeados por notícias relacionadas à pandemia em todos os meios de comunicação, desde jornais e boletins, até mídias sociais e grupos de Whatsapp. Algumas dessas informações são mais cuidadosas e confiáveis, enquanto outras são mais ou menos duvidosas. Para completar, observamos as discrepâncias de discurso entre o Presidente e o Ministério da Saúde, o que contribui para a sensação de insegurança da população. Com tanta desinformação, vemos um cenário de caos, que facilmente pode levar as pessoas ao pânico.

O risco da má-informação está presente em vários aspectos da nossa vida. Porém hoje, na situação de pandemia, esse risco fica mais evidente. O “Centro para um Público Informado” da Universidade de Washington (tradução livre de “Center for an Informed Public”, do inglês CIP) é um exemplo de resposta a essa crise de desinformação. Cinco pesquisadores da Universidade de Washington fundaram o centro em dezembro de 2019, antes da explosão do surto coronavírus e sem ter ideia de que realizaram essa iniciativa em um momento crucial.

O CIP é um centro de pesquisa que tem uma missão de compromisso com o público, focada nessa questão da desinformação. O principal objetivo da pesquisa desenvolvida pelo Centro é compreender como a desinformação se propaga e utilizar esses resultados para promover uma sociedade bem informada e para fortalecer o discurso democrático. O atual cenário gerado pelo coronavírus é o perfeito exemplo para atuação do Centro, e os seus pesquisadores e afiliados têm sido vozes proeminentes na mídia em discussões acerca da pandemia.

O trabalho do centro se baseia em um esforço interdisciplinar focado em pesquisa, educação, leis e compromisso. A pesquisa questiona como a informação é transformada em conhecimento e ação em uma sociedade. Esse questionamento envolve compreender o fluxo de informação e desinformação nos sistemas modernos, a tradução dessa informação em valores, crenças e ações, e como seria possível intervir nesses processos de maneira apartidária, visando a uma sociedade melhor informada. O ramo educacional está focado na formação de líderes conscientes dessa missão, com estudantes em treinamento numa mistura de diferentes cursos: sistemas de informação, comportamento humano, comunicação e política. O ramo legal analisa a estrutura legal que controla os fluxos de informação domésticos e internacionais. Com relação ao compromisso, o centro tem parceiros externos e colaboradores, como professores e jornalistas, para desenvolver estratégias de abordagem ao público, e temos como exemplo o engajamento na informação sobre o progresso da pandemia.

É notável a importância dessas ações na conjuntura atual, mas não apenas por conta da Covid-19. Períodos de crise por si só são situações favoráveis ao espalhamento de rumores e informações não fundamentadas. A questão é que na era da internet, com o uso disseminado das mídias sociais, muito mais pessoas geram conteúdo, e muito mais informações são disseminadas indiscriminadamente, adicionando novas dinâmicas ao fluxo da informação. Além disso, é de fato um período de incertezas, o que gera ansiedade sobre o que está acontecendo agora e sobre o futuro. Normalmente a busca e o compartilhamento de informações é a maneira natural como as pessoas lidam com essa ansiedade.

Porém, na nossa era, o excesso de informação em si é um problema, pois traz o desafio de tentar filtrar quais dessas informações são confiáveis. Algumas informações errôneas são divulgadas propositalmente para levantar doações a organizações falsas, ou para gerar alarde e conseguir mais seguidores em um perfil de mídia social, por exemplo. Muitas vezes, as pessoas em geral compartilham essas informações com a boa intenção de proteger os seus amigos e familiares.

O problema é que informações suspeitas são de fato perigosas, pois não apenas contribuem para o pânico generalizado, como podem levar as pessoas a atitudes que colocariam a si próprias ou aos outros em risco. É o que vemos claramente com os debates sobre o distanciamento social para conter o coronavírus. Hoje, nós precisamos lutar não apenas contra a pandemia, mas também contra a infodemia do coronavírus, de acordo com o diretor geral da Organização Mundial de Saúde, em referência às notícias falsas que, segundo ele, se espalham mais rápido e com mais facilidade que o próprio vírus e são tão perigosas quanto ele.

Afinal, como diferenciar as informações confiáveis das desinformações? Uma fonte muito interessante e que podemos compartilhar por aí é o Blog da Infodemia, criado por Mike Caulfield, especialista em informação digital que trabalha na Universidade do Estado de Washington e é afiliado ao CIP. No blog, Mike discute algumas habilidades que fazem grande diferença na capacidade de uma pessoa identificar informações fictícias na internet. Qualquer pessoa pode desenvolver esses hábitos e trabalhar essas habilidades para ficar mais resistente a essa enxurrada de desinformação. Veja a seguir os hábitos incentivados pelo método:

  1. Quando você ficar impressionado ou surpreso com uma notícia e sentir aquele ímpeto de compartilhar… apenas pare! Desenvolva as seguintes atitudes.
  2. Investigue a fonte. Sempre, não apenas quando você já suspeita da informação.
  3. Encontre uma melhor cobertura. Faça uma busca rápida nas notícias sobre aquele assunto. Você pode encontrar uma reportagem mais abrangente sobre o mesmo tema em outras fontes, o que seria mais confiável. Isto é, pode ser que não apareçam outras notícias… muito suspeito! Geralmente, você vai detectar inconsistências quando busca por histórias mais completas.
  4. Rastreie o contexto original. Uma informação original verídica pode facilmente ser tirada de contexto. Um exemplo bem simples e fácil de ser verificado é a data em que a informação foi publicada.

Você pode ver casos da aplicação desse método no Twitter em exemplos diários.

Nós, acadêmicos, temos um papel importante também nesse momento. Mesmo que não sejamos virologistas, infectologistas ou epidemiologistas, somos vistos como fonte de informações mais confiáveis. Muitas vezes desconfiamos facilmente de algumas notícias, quando elas são sensacionalistas ou quando não têm qualquer embasamento científico. Contudo, muitas vezes também precisamos investigar as notícias. Seja porque não tratam da área de nosso conhecimento específico, seja porque as informações mudam rapidamente ao longo do tempo. Além disso, nós também estamos quarentenados recebendo enxurradas de notícias, prints e vídeos em todas as mídias. Também precisamos aprender a lidar com a ansiedade dessa situação. Reconhecer o ímpeto ansioso de compartilhar informações já é o primeiro passo. Da mesma forma, podemos praticar hábitos para verificar as notícias e tentar informar as pessoas dos nossos círculos, tanto sobre a veracidade das informações que estão sendo discutidas, quanto dos problemas relacionados ao excesso de (des)informação.

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