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As consequências de uma pesquisa falha

Diferente da pesquisa deliberadamente fraudulenta – na qual forja-se resultados intencionalmente – a pesquisa falha caracteriza-se por erros cometidos de forma não-intencional e que podem ser de vários tipos e causados por várias razões:

Recorte equivocado: às vezes a pesquisa baseia-se numa lacuna deixada por estudos precedentes, mas se esta lacuna for percebida de forma equivocada originará uma pesquisa falha.

Fontes equivocadas: num caso um pouco semelhante ao anterior, pode-se gerar uma pesquisa falha quando se parte de fontes ou dados cujas informações também são falhas. Neste caso, é importante verificar antes de iniciar a pesquisa se as fontes utilizadas são confiáveis. Portanto, procure não somente as menções sobre a fonte, mas também a própria fonte em si. Muitas pessoas, podem também estar utilizando equivocadamente, uma vez que considerou a citação de outros artigos.

Inexperiência: em alguns casos, em particular quando se trata de um estudo mais complexo, a falta da experiência da equipe de pesquisadores envolvidos pode levar a equívocos causados pela falta de vivência profissional. Tais erros enfraquecem o protocolo da pesquisa e terminam por originar falhas, como a aplicação equivocada de uma metodologia de pesquisa ou falta de rigor nos procedimentos e análise de resultados.

Falta de recursos: a falta de recursos para a conclusão de todas as etapas da pesquisa, aliada ao esforço dos envolvidos para concluí-la diante de tal cenário adverso, pode incorrer em erros pela falta do emprego dos materiais adequados ou do emprego do tempo necessário para se obter resultados confiáveis.

Falha na fase de coleta de dados: às vezes pode ocorrer erros ou negligência na fase de coleta e análise de dados para a pesquisa, logo, as demais fases da pesquisa se basearão em informações equivocadas e os resultados não fidedignos, ainda que a metodologia de pesquisa aplicada esteja correta.

O problema da reprodutibilidade

Em todos os casos acima citados de causas de pesquisa falha, um dos principais indícios do problema é a impossibilidade de replicar o estudo e obter os mesmos resultados (no caso das áreas nas quais a reprodutibilidade é utilizada como critério de validação da pesquisa, como a pesquisa clínica e outras). Um estudo feito pela Bayer com 67 trabalhos de pesquisa, constatou que apenas 25% destes podiam ser reproduzidos, o que implica dizer que os outros 75% apresentam falha em alguma instância. Além do investimento de tempo e recursos financeiro perdidos na realização de pesquisas falhas, este índice alarmante também pode implicar em riscos para a saúde das pessoas. Isso porque, muitos estudos comprovadamente falhos e que depois foram retratados são da área pesquisa clínica e chegaram à fase de testes ou aplicação em seres humanos.

As dificuldades para extinguir a pesquisa falha

Pesquisas falhas têm se tornado cada vez mais comuns devido ao complicado cenário que os pesquisadores enfrentam atualmente. Dentro da cultura do “publicar ou perecer”, é preciso obter resultados rapidamente para gerar novas publicações e muitas vezes os estudos realizados não são completados ou não passam pela fase de testes. Além deste cenário propenso à produção de pesquisa falha, há ainda a questão da inviabilidade de retratar todos os estudos que são falhos, visto que isso gera prejuízo às instituições, pesquisadores e periódicos.

Assim sendo, o próprio circuito acadêmico acaba por não coibir este problema e muitas vezes o prestígio e renome de pesquisadores, instituições e periódicos servem para encobrir pesquisas falhas. Isso ocorre porque, quanto mais renomada estas instâncias, menor suspeita levantam sobre este tipo de problema e maior respaldo será necessário a quem acusá-las de cometer equívocos.

Qualidade versus quantidade

Toda esta cadeia viciosa que contribui para o crescente aumento da produção de pesquisa com erros se deve à preferência pela quantidade em relação à qualidade, a começar pela cultura do “publicar ou perecer”. Enquanto o sistema continuar a aferir mais prestígio àqueles que mais publicam ao invés de avaliarem a qualidade dos estudos publicados, o rigor científico continuará em segundo plano e mais pesquisas falhas serão produzidas. Faz-se então necessária a conscientização de agentes de todas as instâncias do circuito de produção acadêmica para solucionar este problema.

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