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As consequências da fraude acadêmica

A fraude acadêmica é uma preocupação crescente. O interesse por esse tema é motivado pelo considerável aumento no número de artigos retratados em periódicos devido à má conduta dos autores. O contexto atual é propenso ao aumento desse problema, uma vez que há pressão pela publicação em grande volume, além de uma concorrência cada vez mais acirrada por recursos. Tudo isso contribui para o surgimento de truques dedicados a aumentar a quantidade e a relevância da produção. As consequências desse panorama são imprevisíveis e podem se tornar desastrosas.

Falsificação e manipulação de resultados

Assim como na história de Pinóquio, mentir para ganhar vantagens pode originar verdadeiras bolas de neve. A empresa Enron Corporation (companhia norte-americana de energia), por exemplo, manipulou os resultados financeiros de um determinado trimestre para maquiar um atraso imprevisto em um grande projeto. Como não foram descobertos, a postura se tornou um hábito e os resultados de todos os trimestres passaram a ser otimizados. Resultado: antes classificada como sexta maior empresa de energia do mundo foi flagrada e teve seu capital totalmente desvalorizado!

Em casos de fraude acadêmica, as consequências também podem ser desastrosas. Em abril de 2013, o jornal The New York Times publicou a história do pesquisador Diederik Stapel, um psicólogo social que obteve uma meteórica ascensão no meio acadêmico holandês. Descobriram que o aparentemente bem sucedido Stapel havia falsificado os resultados de suas pesquisas ao longo de dez anos para manter em alta os níveis de produção e relevância. Por mais inacreditável que possa parecer, ele simplesmente alterava os resultados que não o agradavam para obter as respostas desejadas.

Em casos cuja pesquisa envolve diretamente um determinado público, as consequências podem ser ainda mais severas. O pesquisador britânico Andrew Wakefield foi acusado de fraudar um estudo publicado em 1998 no qual relacionava o autismo à vacina tríplice viral – que garante a imunização contra caxumba, rubéola e sarampo. Uma vez comprovado o desvio acadêmico, Wakefield não só teve sua pesquisa retratada como perdeu sua licença médica. Apesar disso, as piores sequelas foram daqueles que, seguindo os resultados da pesquisa, não deram a vacina aos filhos, expondo-os a essas doenças. Acredita-se, inclusive, que os surtos de sarampo em 2008 e 2009 no Reino Unido sejam consequência dessa fraude. O mais preocupante no caso Wakefield é que, apesar de todas as medidas tomadas para comprovar que a relação entre o autismo e a vacina tríplice não existe, ainda hoje há grupos alimentando sites como o “We support Andrew Wakefield”. Isso só comprova a responsabilidade que os cientistas carregam em suas pesquisas, pois uma vez que conclusões falsas sejam divulgadas, desinformações poderão ressoar por anos, independente de os devidos esclarecimentos serem feitos.

De volta aos trilhos da credibilidade profissional

Não há ainda uma solução eficaz para frear os casos de desonestidade acadêmica, mas os Institutos Nacionais de Saúde (EUA) criaram uma alternativa curiosa: o Programa de Profissionalismo e Integridade na Pesquisa ou P.I. Program. Fundado em 2012 , ele é uma espécie de reabilitação para pesquisadores envolvidos em fraudes de menor gravidade.

O programa é conduzido por James DuBois, diretor do Centro de Ética de Pesquisa Clínica na Universidade de Washington. O P.I. Program procura ajudar esses pesquisadores a se restabelecerem profissionalmente. Para isso, examinam a motivação dos cientistas para fraudar resultados e então traçam um plano que visa garantir que o erro não se repita. Ao final do curso, os participantes recebem um certificado que é encaminhado às instituições de origem, comprovando que eles passaram pelo processo.

Os críticos questionam a eficácia do P.I. Program, pois a grande questão de todos os métodos de reabilitação parece ser sempre a mesma: os resultados, para serem permanentes, dependerão do esforço dos sujeitos submetidos ao tratamento.

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