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Vai apresentar o trabalho em um congresso? Cuide as boas práticas de publicação!

Boas práticas de publicação são essenciais não apenas na preparação de manuscritos científicos para publicação, mas também na redação de resumos e preparação de apresentações para congressos acadêmicos.

A oportunidade de apresentar trabalhos em congressos científicos é fantástica em diversos aspectos: desde ter contato com pesquisas de ponta e resultados inéditos até desenvolver as suas habilidades de apresentação e de networking. Apesar de serem parte da produção científica, cada congresso tem suas regras, e não há um padrão de diretrizes para trabalhos a serem apresentados em tais eventos.

De fato, pode ser observado que em alguns aspectos as regras são menos rígidas. Por exemplo, enquanto há diretrizes objetivas para critério de autoria em trabalhos acadêmicos publicados nas revistas, é comum encontrar autores de resumos em congressos que não atingem todos os critérios. Além disso, os resumos submetidos à comissão organizadora do congresso são avaliados quanto à sua qualidade e relevância. Porém essa avaliação não é tão rigorosa no processo de revisão de um trabalho submetido a uma revista. Nem poderia ser, dada a quantidade de trabalho.

Dessa forma, é importante estabelecer padrões mais adequados à produção científica para trabalhos de congressos, levando em consideração os aspectos característicos do evento. Nesse contexto, um grupo de autores propõe as “Boas práticas para resumos e apresentações em congressos” (do inglês, GPCAP – Good Practice for Conference Abstracts and Presentations), publicadas na revista Research Integrity and Peer Review. Com essas recomendações, o grupo GPCAP procurou estabelecer um guia baseado nos princípios da transparência, consistência e praticidade, tanto para aqueles que vão submeter trabalhos, com o intuito de participar em eventos , como para os organizadores dos congressos. Apesar desse guia ser direcionado para pesquisas patrocinadas por empresas, vários princípios são aplicaveis no contexto de trabalhos de pesquisa.

A questão da autoria é sempre um tema central a ser discutido. Tomando como referência as recomendações do ICMJE para autoria de artigos, o GPCAP admite que pode ser necessário adotar critérios diferentes para resumos e apresentações. Por exemplo, pode ser impraticável que todos os autores contribuam para a redação e revisão crítica do resumo da mesma maneira que é esperado para um manuscrito. Claro, o resumo é muito mais curto, e também há a limitação do tempo. De qualquer maneira, devem ser listados como autores aqueles que realizaram a pesquisa ou contribuíram de maneira fundamental para o seu planejamento e a interpretação dos resultados, e que tomarão responsabilidade sobre os resultados. É sugerido um máximo de 10 autores por resumo, como uma forma de monitorar que todos possam de fato participar e revisar o trabalho.

Em circunstâncias específicas, uma pessoa que não seria classificada como autor do trabalho será o apresentador no congresso. Nesse caso, todos os autores devem concordar com a situação. O apresentador deve então ser descrito como tal na lista de contribuidores. Porém, alguns congressos determinam que apenas autores podem apresentar os trabalhos. Se for o caso, o nome do apresentador poderá ser adicionado como autor. O autor principal deve discutir a apresentação e a interpretação dos dados com o apresentador, para garantir que os autores serão representados devidamente.

É possível apresentar os mesmos dados em dois eventos diferentes, se as regras de tais eventos permitirem. Porém, o GPCAP recomenda que se faça essas apresentações repetidas apenas quando se referem a audiências bem distintas, e que as apresentações anteriores relativas a esse trabalho sejam listadas. Uma sugestão para coordenar esses trabalhos repetidos é que os organizadores dos eventos adicionem uma maneira de identificar essas possíveis apresentações anteriores no formulário de submissão dos resumos. O mais comum, entretanto, é que sejam adicionados novos dados para escrever um novo resumo utilizando também dados anteriores, que já foram apresentados. Nesse caso, mesmo com parte dos dados repetidos, esse resumo é considerado um novo trabalho.

Em relação às citações, é recomendado que se citem artigos completos publicados, visto que eles estarão disponíveis e serão mais confiáveis, devido ao processo de revisão por pares. Entretanto, se os dados não foram publicados em periódicos, mas estão disponíveis como resumo apresentado em congresso, esses resumos podem ser citados. Cite sempre o resumo, e não o pôster ou os slides, porque esses não são revisados como os resumos. Ademais, não esqueça de verificar se esses dados de interesse ainda não foram aceitos para publicação em alguma revista da área.

Obviamente, o objetivo de um Congresso é diferente do objetivo de uma revista de publicação científica, por isso há especificidades distintas em relação aos trabalhos. Essas diretrizes apresentadas aqui pelo GPCAP tentaram acomodar padrões científicos com as necessidades e objetivos dos eventos. A importância dos congressos para a comunidade científica está na divulgação das pesquisas mais recentes e no ambiente propício para discussão dessa ciência. A ética na preparação e apresentação dos novos dados é fundamental para sustentar essa função dos eventos na produção científica como um todo. O objetivo do GPCAP com esse guia é que os profissionais da indústria, os autores de trabalhos e os organizadores de congressos possam melhorar a consistência, a transparência e a integridade dos trabalhos em congressos.

Mas além de focar nos detalhes do trabalho a ser enviado para um congresso, o pesquisador também deve ter cuidado com a escolha do evento. Assim como existem as chamadas revistas predatórias, também há os congressos predatórios. É muito comum os pesquisadores receberem convites para falar em congressos. Enquanto alguns desses eventos são sérios e respeitáveis, a maioria dos convites é uma cilada (podem ser simplesmente eventos falsos)! Mas então como saber? Visite o site da Think. Check. Attend., uma organização que tem como objetivo facilitar essa investigação por parte do pesquisador para identificar quais congressos ele deve evitar. São dicas como confirmar se é o primeiro ano do evento, se conhece colegas que já participaram, identificar as associações que estão organizando e patrocinando o evento… A organização apresenta uma checklist que vai facilitar a sua vida. Identificados quais congressos não são armadilhas, deve verificar também qual o melhor congresso para si. Veja aqui algumas dicas para escolher o seu.

Resumindo, aproveite as oportunidades de viajar para congressos, assim pode aliar as vantagens acadêmicas de um evento científico com a oportunidade de conhecer novos lugares. Só cuidado para não se inscrever num congresso suspeito e perder dinheiro. Planeje no início a responsabilidade dos autores para poder escrever o resumo e estabelecer quem vai apresentar o trabalho no evento. Cuide as boas práticas de publicação e aproveite!

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